Musical Hair volta a ser encenado em São Paulo

Por José Luchetti

Hair é um musical revolucionário que estreou em 1967 e é frequentemente creditado por popularizar o gênero do rock musical. Criado por James Rado e Gerome Ragni, com música de Galt MacDermot, o musical aborda temas sociais e políticos predominantes na década de 1960, como a contracultura hippie, a Guerra do Vietnã, liberdade sexual e igualdade racial e agora está de volta aos palcos brasileiros.

A história original se passa em Nova York e segue um grupo de jovens hippies que formam uma tribo com ideais semelhantes. Liderados por personagens como Claude, Berger e Sheila, eles lutam contra o recrutamento militar, pregam paz e amor, e vivem um estilo de vida de comunidade livre. Claude é um jovem que enfrenta o dilema de cumprir o serviço militar ou seguir seus ideais pacifistas e espirituais. A narrativa acompanha sua jornada de autodescoberta e a pressão para se conformar ou resistir. Na adaptação nacional, o musical se passa no Brasil, em 1968, durante o período da ditadura.

O diretor da nova montagem, Thiago Oliveira, entrevistado pela Acontece, diz que vê paralelos entre a temática do musical nos tempos de hoje, por estarmos passando com países em guerras, crises políticas, palavras de ódio. “Precisamos buscar dentro de nós mesmos que tenhamos um mundo melhor, um futuro para nossa próxima geração, através da paz e do amor. E não do ódio e rancor”, resume.

Hair foi pioneiro em muitos aspectos do teatro musical. Foi um dos primeiros a incorporar rock e soul em suas canções, destacando-se em uma época dominada por estilos mais tradicionais. A peça foi ainda inovadora em abordar temas sensíveis e em sua representação franca de nudez e uso de drogas no palco.

Thiago Oliveira que também é o fundador da Cia Makuná explica que Hair tem dois significados muito importantes já que a peça marcou a estreia da companhia nos palcos, quando foi fundada há 10 anos. “O segundo ponto é que gosto muito de trabalhar obras que realmente passem alguma mensagem positiva. Hair é exatamente isso já que conta a história onde uma tribo de hippies que luta contra o sistema para trazer a paz e o amor”, completa. 

A peça termina com Claude, após uma série de alucinações e questionamentos internos, decidindo não fugir de suas responsabilidades, mas também não abandonando seus ideais. O musical culmina em uma performance impactante com a música “Let the Sunshine In”, um hino de esperança e resistência.

Resistência como é fazer musicais no Brasil com tantas dificuldades orçamentárias de patrocinadores. Questionado como conseguiu colocar o espetáculo em pé, o diretor Thiago Oliveira lembra que todo o conceito da produção foi feito com doações de figurinos, de objetos cênicos e materiais recicláveis, onde a filosofia da trupe foi trabalhar com materiais totalmente sustentáveis. “Nos escrevemos para um edital ou para algum tipo de patrocínio com todos os requisitos necessários, mas não conseguimos o fomento por não sermos artistas da grande mídia. Quantas e quantas vezes teatros batem à porta na nossa cara, pois eles preferem quantidades de seguidores que cada membro tem em suas redes sociais do que o próprio talento e o trabalho de todos nós. Para mantermos esse projeto de pé é muito amor envolvido por nossa profissão e um ato realmente de resistência”, desabafa. 

Mas apesar de tantas adversidades, “Deixa o Sol entrar Hair o musical” tem temporada de 1 de setembro a 13 de outubro no Teatro Eva Wilma e de 29 de novembro a 1º de dezembro no Teatro Arthur de Azevedo, ambos em São Paulo/SP, às sextas e sábados às 20hs e domingo às 19hs. Além de Thiago Oliveira na direção geral, a peça ainda tem direção de produção de Michele Janaina, coreografia de Michele Janaina e Matheus Mello, direção vocal de Lin Torres e um elenco de mais de 20 artistas. 

Cia Makuna coloca no palco mais de 20 artistas cantores