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( votes)*Thalita Gelenske, CEO e fundadora da Blend Edu
Você sabia que as pessoas pertencentes à comunidade LGBTQIA+ têm mais dificuldade em receber um sim de recrutadores do que uma pessoa cisgênero heterossexual? Parece até surreal conviver com esse tipo de cenário ainda em 2023, mas a verdade é que os integrantes da comunidade seguem tendo bastante dificuldade – para não dizer muitas – de se inserir no mercado de trabalho. Uma pesquisa desenvolvida pela Center for Talent Innovation detalha esse cenário ao revelar que 33% das empresas brasileiras não contratariam pessoas LGBTQIA+ para uma função de liderança.
Diante desse contexto, não é de se espantar que o mesmo levantamento informou que 61% dos profissionais LGBTQIA+ ainda não se sentem seguros para assumir a sua orientação sexual ou identidade de gênero no seu ambiente de trabalho. E o temor se justifica, tendo em vista que o estudo “Demitindo Preconceitos”, organizado pela consultoria Santo Caos, aponta que 40% dos participantes do projeto já sofreram algum tipo de discriminação no trabalho por ser exatamente quem são.
Como se tudo isso ainda não bastasse, elas ainda acabam passando por dificuldades adicionais como visões estereotipadas, piadas de mal gosto, fofocas, indiretas. São as chamadas micro agressões.
A diferença entre a micro e a agressão propriamente dita está na sutileza. A primeira não é percebida por quase mais ninguém além, obviamente, da vítima. Muitas vezes a hostilidade é gerada por ‘vieses automáticos’ – mas nem por isso positivos – que repetimos diariamente, como, por exemplo, não levar em conta o ponto de vista de alguém, fazer piadas ou comentários que de alguma forma diminuam uma pessoa, etc.
A origem dessas micro agressões passa, na grande maioria das vezes, por decorrência de estereótipos que, infelizmente, ainda seguem internalizados dentro da sociedade. Isso acontece porque muitas dessas caracterizações parecem elogiosas num primeiro momento, mas na verdade elas acabam por reduzir pessoas em atributos que seriam comuns, porém que não se mostram nem um pouco verdadeiros.
Por conta deste tipo de ‘máscara’, esse comportamento segue passando despercebido, fazendo com que os comentários continuem sendo relativamente comuns dentro dos ambientes corporativos. Como exemplo, podemos citar discursos que dão a ideia de que “homens gays são todos muito alegres e aceitam qualquer tipo de brincadeira”, ou toda que “mulher lésbica é ‘pau pra toda obra’”, etc.
As micro agressões podem variar muito dependendo de diversos princípios. Fatores como perfis e interseccionalidades das vítimas ajudam a identificá-las de forma ainda mais clara. Há de se destacar ainda outros elementos agravantes, como a permissividade da empresa, a falta de políticas e regramentos com relação ao respeito às diferenças, carência de ações educativas, a diferença entre os níveis hierárquicos das pessoas envolvidas e muito mais.
O resultado desse cenário é que muitos trabalhadores pertencentes à comunidade LGBTQIA+ acabam assumindo posturas de fachada não apenas para conseguir um espaço, mas também para mantê-lo. Prova disso é que 49% dos profissionais que responderam a pesquisa da Center for Talent Innovation afirmaram que não escondem, mas preferem não falar abertamente sobre a sua orientação sexual e chegam a alterar o próprio comportamento para se integrar melhor entre os colegas.
Esse cenário ilustra claramente que é preciso encontrarmos maneiras para tornar o ambiente de trabalho mais inclusivo. Hoje, é necessário que as empresas coloquem como metas prioritárias a realização de ações para estimular uma cultura interna consciente, expandir a representatividade e certificar o empoderamento dos colaboradores da comunidade LGBTQIA+. Trata-se de passos fundamentais não só para assegurar o respeito entre a equipe, mas também para garantir que todos se sintam seguros para atuar e conviver de forma livre, sem maiores preocupações.
Por mais que a atenção do universo corporativo se acentue na direção dessa temática durante as celebrações do Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, é inegável que o momento pede maior relevância e recorrência de ações para que as situações expostas nesse conteúdo fiquem apenas no passado. Até porque todo dia é dia para pôr fim ao preconceito contra a orientação sexual e a identidade de gênero.
*Thalita Gelenske é fundadora da Blend Edu, a principal HRtech e ESGtech especializada em diversidade e inclusão do Brasil. Com mais de 12 anos de experiência na área de gestão da diversidade e cultura organizacional, é referência nas temáticas de gestão estratégica de pessoas e gestão de projetos sociais.
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