Autossabotagem: por que nosso cérebro nos impede de prosperar?

Vivemos um momento de crescente interesse por temas como desenvolvimento pessoal, autoconsciência e saúde mental. Cada vez mais pessoas buscam respostas para um comportamento que, embora comum, costuma passar despercebido: a autossabotagem.

Sabe quando você está se preparando para algo importante, uma mudança de carreira, um novo relacionamento, a abertura de um negócio e, de repente, adia, desiste, perde o entusiasmo ou simplesmente deixa tudo escorrer pelos dedos? Muitas vezes, isso não tem nada a ver com falta de capacidade, sorte ou empenho. O que está por trás, na maioria dos casos, é um mecanismo inconsciente de defesa.

Do ponto de vista da neuropsicanálise, nosso cérebro é antes de tudo uma máquina de proteção. Ele busca o que é previsível, familiar e seguro. Assim, quando nos aproximamos de uma situação nova, mesmo que ela traga crescimento ou felicidade, o cérebro pode acionar um “freio de mão emocional”. Isso acontece porque o novo, para ele, muitas vezes é percebido como ameaça. O resultado? Medo de fracassar, de ser rejeitado, de perder algo ou alguém importante. E aí, inconscientemente, entramos no ciclo da autossabotagem.

Esses comportamentos se manifestam de forma sutil, mas impactam profundamente a nossa vida. Procrastinação crônica, medo paralisante de errar ou ser julgado, crises em relacionamentos que pareciam ir bem, dificuldade em sustentar conquistas ou aquela sensação de que “algo vai dar errado” justamente quando tudo parece dar certo. São armadilhas mentais construídas a partir de crenças limitantes, muitas vezes enraizadas na infância: “eu não sou bom o bastante”, “não mereço ser feliz”, “se eu crescer, vou perder quem amo”. Histórias internas que moldam nossas escolhas sem que a gente perceba.

E esse fenômeno não é raro. Dados da {reprograma}, iniciativa que capacita mulheres negras, trans e travestis para o mercado de tecnologia, mostram que 39,8% das mulheres entrevistadas apontaram a autossabotagem ou a falta de confiança como os principais obstáculos na carreira. Isso revela como o comportamento, muitas vezes silencioso, impede o avanço profissional, especialmente em grupos que já enfrentam múltiplas barreiras sociais e econômicas.

Como identificar a autossabotagem?

Abaixo, indico alguns sinais de alerta:

• Procrastinação frequente;
• Medo excessivo de errar ou ser julgado;
• Perfeccionismo paralisante;
• Dificuldade em manter conquistas ou relacionamentos;
• Fuga de responsabilidades (inventar desculpas, se ocupar demais);
• Autocrítica intensa e constante sensação de insuficiência.

E o que fazer?

1. Torne o inconsciente consciente. Comece a observar seus comportamentos. Quando você sente que está se boicotando? Que pensamentos aparecem? Pergunte-se: “O que estou evitando? Do que tenho medo, de verdade?”.
   
2. Questione suas crenças. Aquela voz interna dizendo que você não é capaz pode não ser sua. Muitas vezes, essas crenças foram herdadas de experiências antigas ou de figuras de autoridade do passado. Identifique e desafie essas narrativas.
   
3. Busque apoio profissional. A psicoterapia, especialmente quando integra neurociência e psicanálise, ajuda a acessar as camadas mais profundas da mente. A partir disso, é possível ressignificar histórias, reconstruir a autoestima e transformar a relação que você tem consigo mesmo.

Autossabotagem não é defeito, nem fraqueza. É um sinal de que há algo não resolvido dentro de você, algo que precisa de escuta, acolhimento e cuidado. E a boa notícia é que, quando o cérebro entende que está seguro, ele deixa de resistir ao novo e começa a abrir espaço para o crescimento, sucesso e prosperidade.

Será que não está na hora de parar de se sabotar e começar a ser seu maior aliado? Pense nisso.

* Priscila Gasparini Fernandes, diretora da Clínica Seu Equilíbrio, psicanalista com especialização em neuropsicologia, além de musicoterapia e psicopedagogia da metodologia Applied Behavior Analysis (ABA)